sábado, 18 de setembro de 2021

Na onda do K-pop: como a Hallyu fez do Brasil o terceiro maior consumidor de K-dramas na pandemia

Pesquisa realizada entre setembro e novembro de 2020 indica que os brasileiros passaram a assistir mais séries sul-coreanas em comparação com período antes da Covid-19

 

Rafaelle Gomes
Fonte: oglobo.globo.com
Em: 10/07/21

 

RIO — Na medida em que o K-pop ganha espaço no Ocidente, também cresce o alcance da Hallyu, como é chamada a onda cultural sul-coreana, estimulada tanto por grandes empresas do entretenimento quanto pelo governo. Mas além da música, a influência da Coreia do Sul também aparece em outras áreas, como gastronomia, tecnologia da informação, moda e beleza, cinema e, algo bastante comum na era do streaming: séries, normalmente chamadas de doramas quando são produzidas em países do leste-asiático.

— A cultura idol é parte inerente e essencial do que forma o K-pop hoje e acredito que majoritariamente continuará sendo no futuro, pelo menos à curto e médio prazo — afirma Daniela Mazur, especialista em estudos coreanos e dramas de TV e doutoranda do Programa de Pós-graduação em comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM/UFF). — São pessoas que dão forma e rosto ao K-pop e é isso, junto dos seus talentos e experiências pessoais, que atrai interesse por todo o mundo.

Mais especificamente nesse caso, os K-dramas, em referência aos seriados da Coreia do Sul, vêm aumentando o interesse de brasileiros nas plataformas de streaming. No país, o conteúdo é variado e pode ser encontrado em aplicativos como Netflix, Viki e Kocowa (termo para Korean Content Wave, isto é, Onda de Conteúdo Coreano).

Uma pesquisa do Ministério da Cultura, Esportes e Turismo, realizada em 18 países pela Fundação Coreana para Intercâmbio Cultural Internacional entre setembro e novembro de 2020, mostrou o Brasil como o terceiro local onde mais cresceu a audiência pelos doramas coreanos, em comparação com o período anterior à pandemia. Em primeiro lugar ficou a Malásia e, em segundo, a Tailândia. Depois do Brasil, aparecem os Emirados Árabes Unidos e Taiwan.

Foram entrevistados 8,5 mil homens e mulheres de 15 a 59 anos que moram nos seguintes países: China, Japão, Taiwan, Tailândia, Indonésia, Malásia, Índia e Vietnã, Austrália, EUA, Brasil, Argentina, França, Reino Unido, Rússia, Turquia, Emirados Árabes Unidos e África do Sul.

 

Pesquisa do governo sul-coreano mostra qual aspecto cultural mais cresceu em cada país
Imagem: oglobo.globo.com

Romance, séries com idols e fantasia

Um levantamento realizado pelo Viki a pedido do GLOBO, revela que usuários no Brasil são majoritariamente do sexo feminino (77%) com idades entre 13 e 18 anos (53%). Por mês, a plataforma, que é gratuita, mas oferece assinatura premium como opção para evitar propagandas e acessar doramas exclusivos, contabiliza no país acessos por mais de 1 milhão de espectadores.

Considerando as transmissões realizadas nos últimos seis meses, os três gêneros que mais se destacaram foram: comédia romântica, séries estreladas por idols (termo usado para se referir aos membros de grupos de K-pop) e fantasia. Quanto ao segundo item da lista, vale destacar que, seja durante as atividades na indústria musical ou após seu encerramento, muitos cantores ingressam no campo da atuação.

Artistas de K-pop, também conhecidos como “idols”, não são distantes do cenário de atuação quando se trata de K-dramas, e isso definitivamente atrai o público brasileiro. Na maioria das vezes, você verá vários cantores estreando como ator, sempre trazendo sua enorme fanbase com eles para aumentar os números de audiência — afirmou Edgard Elizarraras, especialista em marketing digital.

Para citar alguns, há os idols Jinyoung, do GOT7; Siwon, do Super Junior, Suzy, que integrou o Miss A; e Kystal, que foi membro do f(x). Além disso, uma das estreias mais aguardadas é o dorama "Snowdrop", em que a cantora Jisoo, do Blackpink, fará o papel da protagonista, contracenando com o astro Jung Hae-in. Embora não haja uma data oficialmente marcada para ir ao ar, a expectativa é que a série seja exibida ainda neste ano.


Kim Jisoo, integrande do Blackpink, e Jung Hae-in contracenam no K-drama 'Snowdrop'
Imagem: oglobo.globo.com

— Por exemplo, “Hwarang: The Poet Warrior Youth” está no Top 5 K-dramas do público brasileiro desde que chegamos ao Brasil em 2019 porque o V, do BTS, é um personagem coadjuvante. O papel principal de Rowoon, do SF9, em “Extra-ordinary You”, também contribuiu para as repetidas visualizações e posição de destaque na programação do Brasil — disse Justine McKay, do líder do departamento de marketing da Kocowa.

 

Visualizações crescem no Brasil em 53%

Em comparação com os dados demográficos obtidos pela Viki, são semelhantes as informações disponibilizadas pela plataforma Kocowa, também sediada nos EUA, com escritórios no Brasil e na Coreia do Sul. Seu público global (habitante das Américas do Norte, Central e do Sul) é 85% feminino, 15% masculino, e composto em 90% por pessoas de origem não coreana, e 70% não asiática. Além disso, 86% dos usuários têm menos de 44 anos. O acesso também é oferecido no modo gratuito, com opções de assinaturas pagas.

Dos 2,2 milhões de usuários cadastrados, 26% têm registro do Brasil, onde a Kocowa começou suas atividades em agosto de 2019. As dez cidades que mais consomem seu conteúdo são: São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Brasília, Manaus, Curitiba, Belo Horizonte, Recife, Belém e Campinas. A pedido do GLOBO, um levantamento da Kocowa revelou aumento expressivo nas visualizações registradas no Brasil. De 2020 para 2021, o crescimento foi de 53%.

Diferentemente dos demais serviços de streaming, o Kocowa é focado nos K-dramas por ser uma companhia da Korea Content Platform, Inc. (KCP), que une as emissoras sul-coreanas KBS, MBC e SBS. Por isso, o conteúdo oferecido inclui reality shows e programas de K-pop, além de a lista das 10 séries mais assistidas ser composta apenas por produções audiovisuais da Coreia do Sul. Veja:

 

Top-5 na Kocowa:


1. Extra-ordinary You, baseado em webtoon (HQ para web) homônimo

Cartaz do K-drama 'Extra-ordinary You'
Imagem: oglobo.globo.com
















2. Weightlifting Fairy, Kim Bok-joo


K-drama 'Weightlifting Fairy, Kim Bok-joo'
Imagem: emcadapagina.com












3.  Hwarang: The Poet Warrior Youth

K-drama 'Hwarang: The Poet Warrior Youth'
Imagem: dramasekai.com


4 I Am Not a Robot

'I am not a robot' foi o quarto K-drama mais visto no Brasil em 2021
Imagem: oglobo.globo.com












5. Tempted

K-drama 'Temped', quinto mais assistido por brasileiros em 2020
Imagem: oglobo.globo.com









Os mais queridos no Brasil em 2020

Relatório do governo sul-coreano indica os três K-dramas mais queridinhos pelos brasileiros em 2020.

Em primeiro lugar, a mais citada pelos entrevistados na pesquisa do governo sul-coreano foi "Kingdom", um dorama de época marcado por ação, terror e zumbis, que se passa na Dinastia Joseon e traz no elenco Ji-hoon Ju, Ryu Seung-Ryong, Doona Bae.


'Kingdom' foi o K-drama mais assistido por brasileiros em 2020
Imagem: oglobo.globo.com

Em segundo, despontou "Tudo bem não ser normal", que conta a emocionante história da relação entre os irmãos interpretados por Kim Soo-hyun e Kwak Dong-yeon e a escritora de livros infantis no papel da atriz Seo Ye-ji.

K-drama 'Tudo bem não ser normal'
Imagem: tribernna.com

E, em terceiro, apareceu "O rei eterno", uma aventura romântica com suspense estrelada por Lee Min-ho e Kim Go-eun. Todas as três estão disponíveis no Brasil pela Netflix.


Kim Go-eun e Lee Min-ho no K-drama 'O rei eterno'
Imagem: oglobo.globo.com

Já no campo do cinema, "Parasita", o vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2020, não surpreendeu ao ser o filme coreano mais visto pelos entrevistados brasileiros. Nas redes sociais, também é perceptível sua popularidade. Na última segunda-feira, dia 5, o longa dirigido por Bong Joon-ho foi transmitido pelo "Tela Quente" da TV Globo, marcando a primeira exibição na TV aberta brasileira. Com isso, o título da obra foi para o topo dos assuntos mais comentados no Twitter Brasil.

Os autores da pesquisa informaram que esta é a única enquete oficial com o objetivo de mensurar o alcance da Hallyu no exterior para identificar tendências nas percepções dos consumidores do conteúdo cultural sul-coreano por país. Eles explicam que a proposta é encontrar uma direção política preventiva para criar um ecossistema da Hallyu sustentável em um ambiente de mercado externo.



quarta-feira, 15 de setembro de 2021

O que é K-Pop: a história do gênero que mudou a indústria da música

Com a força da internet, grupos como BTS, BLACKPINK, EXO, Twice, NCT e mais dezenas de artistas tomaram conta das plataformas de streaming e elevaram o gênero musical para um dos mais consumidos em todo o mundo


Rafaelle Gomes
Fonte: revistaquem.globo.com
Em: 31/05/21


Se você ama música e está antenado nas redes sociais, sabe que o K-Pop é um verdadeiro fenômeno mundial. Com a força da internet, grupos como BTS, BLACKPINK, EXO, Twice, NCT e mais dezenas de artistas tomaram conta das plataformas de streaming e elevaram o gênero musical para um dos mais consumidos em todo o mundo. 

A história do K-Pop começou ainda no final da década de 1980, quando os sul-coreanos consumiam o entretenimento europeu e estadunidense e um movimento que valorizava a cultura local passou a ganhar força. Com um forte investimento do governo da Coreia do Sul na exportação de música, filmes, série e gastronomia local, o início da Onda Coreana, também chamada de Hallyu, teve um forte impacto inicial no Japão, China e Sudeste da Ásia.

Um dos marcos na história da cultura e da música sul-coreana foi a apresentação do grupo de hip-hop Seo Taiji & Boys em um canal de televisão em 1992. A gigantesca popularidade dos Seo Taiji & Boys nos anos seguintes, até seu auge em 1996, foi incentivo para o governo remodelar a cultura sul-coreana. Poucos anos depois, a música começou a ser tratada como um commodity e leis de incentivo foram aprovadas na Coreia, levando um investimento poderoso para a área.


Taiji & Boys
Imagem: habkorea.net

Com a explosão do k-pop no leste asiático nos anos 1990, três empresas foram responsáveis por suprir a demanda do público na época: SM Entertainment, YG Entertainment e JYP Entertainment. O número de grupos e de empresas que agenciam cantores e dançarinos aumentou, assim como a popularidade da cultura sul-coreana no mundo.

O K-Pop pode ser dividido em gerações, que levam em consideração os anos em que os grupos foram lançados pelas empresas. Ao lado de Taiji & Boys, que integram a primeira geração, estão também H.O.T g.o.d. A segunda geração é representada pelo ressurgimento de grupos em meados de 2003, após um declínio na popularidade do K-Pop, como TVXQ, BoA, SS501, Super Junior, Wonder Girls, Girls Generation, SHINEee.

Girls Generation
Imagem: nme.com

A terceira geração, definida por volta de 2011, com o sucesso mundial de Gangnam Style de Psy, é atualmente representada por BTS, EXO, Twice, Red Velvet, SEVENTEEN, entre outros grupos. Já a quarta geração engloba artistas como TXT, ITZY, Stray Kids, ATEEZ e LOONA.

A principal diferença entre as fases do K-Pop é a propagação em tempo real graças à internet. O acesso quase que universal aos serviços na web, a interconectividade e desenvolvimento de uma grande variedade de dispositivos móveis é - junto com o rápido crescimento de mídias sociais como YouTube, Facebook e Twitter - traz transformações inovadoras na forma em que os produtos culturais são apresentados, consumidos e distribuídos, além de ter novas maneiras de mensuração de alcance e métricas.

"É de conhecimento popular que o K-pop conquistou fãs de diversos países ao longo dos anos. Essa popularidade contribuiu para que mais pessoas se interessassem e passassem a conhecer a cultura coreana em seus diversos níveis, desde comida até costumes. Ao mesmo tempo, ele proporcionou que as pessoas se desvinculassem de visões pouco correspondentes a real Coreia", explica o diretor Wankuk Kim, do Centro Cultural Coreano no Brasil, localizado em São Paulo.

"Depois da explosão do K-Pop mundo afora, há uma visão extremamente positiva e humana do país espalhada mundialmente, o que permite que mais pessoas apreciem a Coreia, desejem visitá-la e desfrutem da cultura coreana, que é uma mistura do tradicional com o moderno. Claro que existem outros pontos que podem ser citados, mas essa questão do K-Pop levar aos seus fãs mais sobre a Coreia tal como ela é e permitir que eles a compreendam como uma mistura do moderno e do contemporâneo, tão rica e complexa, é com certeza um dos principais pontos de ressignificação da cultura", acrescenta ele.

BTS
Imagem: wikipedia.org

K-POP NO BRASIL

No início da década, de 2008 até 2012, as redes sociais, como Orkut, Twitter e YouTube, foram essenciais para os fãs brasileiros chamarem a atenção de empresas que agenciavam os grupos de K-Pop. Com o boom do gênero fora da Ásia, as agências e gravadoras perceberam o mercado em potencial na América do Norte, Europa e América Latina.

Mesmo com a popularidade dos grupos no Brasil, com grandes comunidades nas redes sociais, os primeiros grupos só vieram ao país a partir de 2011. Em dezembro daquele ano, a Cube Entertainment trouxe seus artistas da época, como B2ST, 4Minute e G.NA, para uma turnê especial no Brasil. A apresentação virou reportagem no programa Fantástico, da Globo. Dois anos depois, em 2013, PSY trazia Gangam Style para o Carnaval de Salvador, quando se apresentou ao lado de Claudia Leitte em um trio elétrico.

Outro exemplo da importância do Brasil para a cultura sul-coreano é o Music Bank, programa musical tradicional do país, que fez uma turnê mundial e o Rio de Janeiro foi incluído na lista de cidades visitadas. Desde julho de 2011, o Music Bank World Tour teve edições na Ásia, Europa e América Latina, com um público estimado em mais de 180 mil pessoas.

A estimativa do Centro Cultural é de que existam entre 200 mil a 400 mil fãs do gênero no Brasil. "O K-Pop começou a expandir no mundo a partir de 2004 e acreditamos que começou a conquistar fãs no Brasil a partir de 2007. O Centro Cultural Coreano no Brasil foi inaugurado em 2013 e sempre oferecemos aulas de canto e dança de K-pop. A demanda sempre foi grande e, até a chegada da pandemia, havia muitos alunos desejando participar dos cursos oferecidos. Hoje estamos realizando aulas em nosso canal do YouTube e a quantidade de visualizações é significante; através dela, nós conseguimos perceber que o K-Pop no Brasil é muito relevante e atrai muitas pessoas", afirma Kim.

Desde sua explosão, em 2013, inúmeros grupos passaram pelo Brasil: BTS SuperJunior, Dreamcatcher, Monsta X, KARD, SF9, Momoland, MAMAMOO Oh my Girl, VAV, PENTAGON e Spectrum são alguns que já agitaram uma legião de fãs no país e lotaram casas de shows e estádios em todo o Brasil;

De acordo com dados do Spotify à Quem, desde 2014, quando a primeira playlist de K-Pop foi lançada na plataforma, o consumo do gênero já aumentou mais de 2.000%. Os cinco artistas mais escutados são BTS, BLACKPINK, TWICE, EXORed Velvet – grupos que se consolidaram no mundo da música como alguns dos mais importantes. Segundo dados divulgados em 2020, o Brasil é o quinto país que mais consome K-pop entre os 92 países atendidos pelo aplicativo.

 

SERVIÇO – CENTRO CULTURAL COREANO NO BRASIL
Para informações sobre aulas, biblioteca exposições e outros – (11) 2893-1098
Endereço: Avenida Paulista, 460, Bela Vista, São Paulo/SP

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